Cidadania Digital
Tendo eu nascido numa época em
que a internet ainda estava a dar os seus primeiros passos, sempre fui muito
receosa sobre quem tem acesso ao quê no mundo cibernautico.
Como sempre vivi na cidade e em
apartamentos. Nunca deixei a porta de casa aberta. Não por não confiar nos
vizinhos, porque os conhecia a todos, mas por nunca saber quem poderia entrar
no prédio e entrar-me pela casa a dentro.
O mundo da internet é muito
semelhante, na medida em que é uma incógnita saber quem vai ver o que se
publica.
Não deixa de ser extraordinário
estarmos em Portugal e podermos “visitar” lugares longínquos. Tal como aconteceu
com o pai de uma amiga minha que, ao conseguir “manobrar” o google maps, “revisitou” virtualmente os
locais por onde passou aquando da Guerra Colonial, em Lourenço Marques, atual
Maputo.
Nas redes sociais vimos
escarrapachada a vida de todos os que lá andam, por outro lado aproximam os que
estão longe. Há sete anos estive emigrada no Reino Unido e utilizei o Facebook para os que cá tinham ficado
podessem acompanhar a evolução dos meus filhos, na altura pequenos.
Hoje, tendo os mais velhos 14 e
11 anos, não publico fotos deles com receio de os expor e, sem querer, os
ridicularizar. Coincidentemente, ou talvez não, a rede social deles já não é o Facebook, ligam mais ao Instagram. No outro dia um amigo meu
disse-me: - “Os filhos não frequentam o mesmo café que os pais, porque é que
hão de utilizar a mesma rede social?” – é a realidade. Atualmente, os
adolescentes cá de casa estão alerta para os perigos da internet. Procuro
sempre inteirar-me e conhecer os amigos deles e geralmente são com estes que eles
contactam nas redes sociais.
Quando recebem um “pedido de
amizade” de alguém que desconhecem, não aceitam e geralmente, comentam com os
adultos cá de casa.
O passatempo preferido da minha
filha mais nova, com 9 anos acabados de fazer, é visualizar os vídeos
publicados pelos mais variados youtubers, desde o Felipe Neto à “Bela Bagunça”
e “Luluca”. A do meio, com quase 12 anos, prefere ver as publicações do Insta. Já lá vai o tempo que seguia
fielmente a youtuber Sea3PO e que
acreditava piamente no que ela dizia. O mais velho, já com 14 anos, deixou de
lado as redes sociais e está mais virado para a PS4, onde se liga,
frequentemente com os colegas da escola e os amigos dos escuteiros. Há uns
tempos seguia o Wuant e também acreditava em tudo o que ele provava ser
verdade, mas felizmente os miúdos vão crescendo e constatam que afinal não era
bem assim como diziam na net.
Realmente eles têm uma infância
muito diferente da minha geração. Ver televisão era uma obecessão quando eu era
miúda e eles hoje, têm mais de cem canais em casa e só ligam a uma ou outra
série pontual. O melhor amigo deles é mesmo o telemóvel/computador/tablet, não
só para contactar os colegas, como para aceder à net e ver vídeos do Youtube.
Para mim, os fins de semana eram
uma seca porque não tinha forma de me contactar com os colegas e amigos, a não
ser que ligasse para o telefone fixo da família. Atualmente, os meus filhos
falam com os colegas a toda a hora. Chegam a vir da escola, onde passaram
juntos quase sete horas desse dia e colocam em alta voz para irem falando pela
casa.
Os jovens e os menos jovens estão
cada vez mais ligados, correndo o risco, dizem por aí, de se isolarem, fechados
num quarto, a olhar e falar com o ecrã. No entanto, cá em casa, fazemos questão
de jantar todos juntos sem telemóveis e ficamos felizes quando perguntam se
podem ir ao cinema ou ao parque com os amigos. Pela experiência que vou tendo,
as tecnologias não vieram substituir a presença física, mas, por outro lado,
complementá-la.
O motor de busca Google foi das melhores invenções que se
poderia ter feito, pelo menos para mim. No outro dia um médico de Clínica Geral
do Serviço Nacional de Saúde disse numa entrevista que era importante os
cidadãos descurarem as competências dos profissionais da sua área ao
pesquisarem no “doutor Google”, tal
como ele próprio o nomeou. Hoje temos acesso a uma panóplia de informações
variadas, mas tal tanto pode ser bom, como pode ser mau. Há que pesquisar a
origem e a fiabilidade do site que estamos a consultar. Uma das grandes
desvantagens é que qualquer pessoa pode publicar disparates na internet, seja
em forma de blog ou mesmo num vídeo
publicado no Youtube.
Atualmente e novamente como
estudante recorro com bastante frequência à internet, nomeadamente a dicionários
de Língua Portuguesa, de Sinónimos e a corretores ortográficos.
A minha filha de quase 12 anos,
frequenta o 6º ano de escolaridade e utiliza a Escola Virtual para estudar.
Esta plataforma informática é gratuita até ao final do 2ºCiclo. Além de ter o
manual escolar digitalizado, tem links
de pequenos vídeos para complementar o programa. No manual virtual de
Matemática os links dão-lhe acesso a
exercícios extra de consolidação.
A mais pequena está no 3º ano e
este ano, na escola, teve direito a uma sala com quadro interativo. A
professora aproveita para pesquisar na internet os links aconselhados no manual.
Comparando os dias de hoje ao
tempo de quando eu era estudante do ensino secundário, em que tínhamos de nos
guiar somente pelos manuais escolares ou perder uma tarde inteira na Biblioteca
Municipal para obter outro tipo de informação sobre a matéria lecionada. A vida
académica está muito mais facilitada atualmente.
Houve, em tempos, computadores
oferecidos aos alunos do 1ºCiclo pelo governo. Mesmo sem haver mais esta benesse,
a grande maioria dos alunos do 2ºCiclo possui um computador em casa para poder
estudar e fazer os trabalhos.
Como referi anteriormente vivi no
Reino Unido há uns anos. Lá tive a oportunidade de prestar serviço de
voluntariado numa sala de pré-escolar numa escola pública. Lembro-me que uma
das atividades disponíveis para as crianças era a projeção de um jogo de
imagens num quadro interativo, em que elas jogavam com as e-pens que lhes eram disponibilizadas pela educadora.
As escolas portuguesas ainda não
possuem o equipamento necessário de modo a poder ser implementado na íntegra um
plano escolar com base nas novas tecnologias. Compreendo que se equipem
primeiramente as escolas de níveis mais elevados, como o Secundário e o 3ºCiclo.
No Pré-escolar e no 1ºCiclo o quadro interativo é uma mais valia, mas é nos
graus de ensino seguintes que se torna urgente a adaptação do ensino regular
aos atuais interesses dos jovens.
Para além da falta de recursos
físicos nas escolas, temos os recursos humanos que pertencem a uma faixa etária
maioritariamente elevada e sem paciência para adaptar a sua metodologia à onda
tecnológica atualmente existente.
Não demorará muito tempo que
todos saibamos retirar da internet o maior proveito possível. No entanto, nunca
deveremos “abrir a porta da nossa casa a quem não conhecemos ou deixá-la
escancarada para quem quiser entrar”. Tendo perfeita noção que as técnicas dos hackers irão igualmente sendo
melhoradas, mas se todos tivermos as devidas precauções a minha esperança é que
acabem por desistir.
Rita Lopes Poupinha
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