quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Cidadania Digital

Tendo eu nascido numa época em que a internet ainda estava a dar os seus primeiros passos, sempre fui muito receosa sobre quem tem acesso ao quê no mundo cibernautico.
Como sempre vivi na cidade e em apartamentos. Nunca deixei a porta de casa aberta. Não por não confiar nos vizinhos, porque os conhecia a todos, mas por nunca saber quem poderia entrar no prédio e entrar-me pela casa a dentro.
O mundo da internet é muito semelhante, na medida em que é uma incógnita saber quem vai ver o que se publica.
Não deixa de ser extraordinário estarmos em Portugal e podermos “visitar” lugares longínquos. Tal como aconteceu com o pai de uma amiga minha que, ao conseguir “manobrar” o google maps, “revisitou” virtualmente os locais por onde passou aquando da Guerra Colonial, em Lourenço Marques, atual Maputo.
Nas redes sociais vimos escarrapachada a vida de todos os que lá andam, por outro lado aproximam os que estão longe. Há sete anos estive emigrada no Reino Unido e utilizei o Facebook para os que cá tinham ficado podessem acompanhar a evolução dos meus filhos, na altura pequenos.
Hoje, tendo os mais velhos 14 e 11 anos, não publico fotos deles com receio de os expor e, sem querer, os ridicularizar. Coincidentemente, ou talvez não, a rede social deles já não é o Facebook, ligam mais ao Instagram. No outro dia um amigo meu disse-me: - “Os filhos não frequentam o mesmo café que os pais, porque é que hão de utilizar a mesma rede social?” – é a realidade. Atualmente, os adolescentes cá de casa estão alerta para os perigos da internet. Procuro sempre inteirar-me e conhecer os amigos deles e geralmente são com estes que eles contactam nas redes sociais.
Quando recebem um “pedido de amizade” de alguém que desconhecem, não aceitam e geralmente, comentam com os adultos cá de casa.
O passatempo preferido da minha filha mais nova, com 9 anos acabados de fazer, é visualizar os vídeos publicados pelos mais variados youtubers, desde o Felipe Neto à “Bela Bagunça” e “Luluca”. A do meio, com quase 12 anos, prefere ver as publicações do Insta. Já lá vai o tempo que seguia fielmente a youtuber Sea3PO e que acreditava piamente no que ela dizia. O mais velho, já com 14 anos, deixou de lado as redes sociais e está mais virado para a PS4, onde se liga, frequentemente com os colegas da escola e os amigos dos escuteiros. Há uns tempos seguia o Wuant e também acreditava em tudo o que ele provava ser verdade, mas felizmente os miúdos vão crescendo e constatam que afinal não era bem assim como diziam na net.
Realmente eles têm uma infância muito diferente da minha geração. Ver televisão era uma obecessão quando eu era miúda e eles hoje, têm mais de cem canais em casa e só ligam a uma ou outra série pontual. O melhor amigo deles é mesmo o telemóvel/computador/tablet, não só para contactar os colegas, como para aceder à net e ver vídeos do Youtube.
Para mim, os fins de semana eram uma seca porque não tinha forma de me contactar com os colegas e amigos, a não ser que ligasse para o telefone fixo da família. Atualmente, os meus filhos falam com os colegas a toda a hora. Chegam a vir da escola, onde passaram juntos quase sete horas desse dia e colocam em alta voz para irem falando pela casa.
Os jovens e os menos jovens estão cada vez mais ligados, correndo o risco, dizem por aí, de se isolarem, fechados num quarto, a olhar e falar com o ecrã. No entanto, cá em casa, fazemos questão de jantar todos juntos sem telemóveis e ficamos felizes quando perguntam se podem ir ao cinema ou ao parque com os amigos. Pela experiência que vou tendo, as tecnologias não vieram substituir a presença física, mas, por outro lado, complementá-la.
O motor de busca Google foi das melhores invenções que se poderia ter feito, pelo menos para mim. No outro dia um médico de Clínica Geral do Serviço Nacional de Saúde disse numa entrevista que era importante os cidadãos descurarem as competências dos profissionais da sua área ao pesquisarem no “doutor Google”, tal como ele próprio o nomeou. Hoje temos acesso a uma panóplia de informações variadas, mas tal tanto pode ser bom, como pode ser mau. Há que pesquisar a origem e a fiabilidade do site que estamos a consultar. Uma das grandes desvantagens é que qualquer pessoa pode publicar disparates na internet, seja em forma de blog ou mesmo num vídeo publicado no Youtube.
Atualmente e novamente como estudante recorro com bastante frequência à internet, nomeadamente a dicionários de Língua Portuguesa, de Sinónimos e a corretores ortográficos.
A minha filha de quase 12 anos, frequenta o 6º ano de escolaridade e utiliza a Escola Virtual para estudar. Esta plataforma informática é gratuita até ao final do 2ºCiclo. Além de ter o manual escolar digitalizado, tem links de pequenos vídeos para complementar o programa. No manual virtual de Matemática os links dão-lhe acesso a exercícios extra de consolidação.
A mais pequena está no 3º ano e este ano, na escola, teve direito a uma sala com quadro interativo. A professora aproveita para pesquisar na internet os links aconselhados no manual.
Comparando os dias de hoje ao tempo de quando eu era estudante do ensino secundário, em que tínhamos de nos guiar somente pelos manuais escolares ou perder uma tarde inteira na Biblioteca Municipal para obter outro tipo de informação sobre a matéria lecionada. A vida académica está muito mais facilitada atualmente.
Houve, em tempos, computadores oferecidos aos alunos do 1ºCiclo pelo governo. Mesmo sem haver mais esta benesse, a grande maioria dos alunos do 2ºCiclo possui um computador em casa para poder estudar e fazer os trabalhos.
Como referi anteriormente vivi no Reino Unido há uns anos. Lá tive a oportunidade de prestar serviço de voluntariado numa sala de pré-escolar numa escola pública. Lembro-me que uma das atividades disponíveis para as crianças era a projeção de um jogo de imagens num quadro interativo, em que elas jogavam com as e-pens que lhes eram disponibilizadas pela educadora.
As escolas portuguesas ainda não possuem o equipamento necessário de modo a poder ser implementado na íntegra um plano escolar com base nas novas tecnologias. Compreendo que se equipem primeiramente as escolas de níveis mais elevados, como o Secundário e o 3ºCiclo. No Pré-escolar e no 1ºCiclo o quadro interativo é uma mais valia, mas é nos graus de ensino seguintes que se torna urgente a adaptação do ensino regular aos atuais interesses dos jovens.
Para além da falta de recursos físicos nas escolas, temos os recursos humanos que pertencem a uma faixa etária maioritariamente elevada e sem paciência para adaptar a sua metodologia à onda tecnológica atualmente existente.
Não demorará muito tempo que todos saibamos retirar da internet o maior proveito possível. No entanto, nunca deveremos “abrir a porta da nossa casa a quem não conhecemos ou deixá-la escancarada para quem quiser entrar”. Tendo perfeita noção que as técnicas dos hackers irão igualmente sendo melhoradas, mas se todos tivermos as devidas precauções a minha esperança é que acabem por desistir.
Rita Lopes Poupinha

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